Se palíndromo tivesse antônimo, eu usaria esse recurso
para fazer do título desse texto a palavra sisão (com a liberdade poética de
mudar o acento). Assim, com “ésse”, Sisão é o nome de uma ave asiática;
pobrezinha: em extinção. Se escrito com “cê”: cisão, separação, divisão.
Coincidência estarmos vivendo divididos, separados uns dos outros e, (sim, existe
a possibilidade) com a ameaça de extinção? Seria uma enorme coincidência.
Seria. Se não fosse a palavra original que inicia essa página e intitula a
postagem.
Quando você pensa em um oásis logo vem à mente aquele milagre
da natureza em oferecer uma lagoa, com árvore e tudo, bem no meio de algum
gigantesco deserto, certo? Sim. Isso é um oásis, se é que algum dia existiu de
fato um desses pequenos milagres que não fosse miragens. Bem, mas oásis possui
outra simbologia muito mais bonita e poética quando tiramos a concretude dos
elementos água e terra, e jogamos a mesma relação para outro patamar de significado
ou possibilidade. Em outras palavras, quando fazemos dele uma metáfora. Um oásis
transforma-se em respiro, folga, descanso: uma paz imensa, em meio a tudo que se
opõe à ela.
Vivendo a situação que vivemos (no futuro, o ano dessa
publicação será mais que suficiente para lembrar do que me refiro), a melhor
coisa que pode acontecer na sua vida é encontrar – ou ser encontrado por – um oásis.
Pelo menos é a melhor coisa que vem acontecendo com a minha. Uma paz, um bem
estar de simplesmente ser, em meio ao caos pandemônico, no qual posso me
deleitar algumas vezes por dia e esquecer de tudo, e me deixar viver, no melhor
sentir da palavra.
Talvez, se não fosse o tamanho do supracitado caos, o
prazer dessa sensação não acompanhasse a mesma magnitude; bem como o silêncio que
sucede uma algazarra ensurdecedora, ou até mesmo o lago e sua árvore em meio as
areias do deserto. E talvez também, ou melhor, é justamente isso que dá ao oásis
seu valor e raridade. Precisamente calculado para acontecer justo agora, paradoxalmente
simultâneo a tudo que o rodeia, que é possível sentir-me parte de tão incrível antítese:
ser oásis durante tamanha cisão.