quarta-feira, 15 de abril de 2020

OÁSIS





Se palíndromo tivesse antônimo, eu usaria esse recurso para fazer do título desse texto a palavra sisão (com a liberdade poética de mudar o acento). Assim, com “ésse”, Sisão é o nome de uma ave asiática; pobrezinha: em extinção. Se escrito com “cê”: cisão, separação, divisão. Coincidência estarmos vivendo divididos, separados uns dos outros e, (sim, existe a possibilidade) com a ameaça de extinção? Seria uma enorme coincidência. Seria. Se não fosse a palavra original que inicia essa página e intitula a postagem.

Quando você pensa em um oásis logo vem à mente aquele milagre da natureza em oferecer uma lagoa, com árvore e tudo, bem no meio de algum gigantesco deserto, certo? Sim. Isso é um oásis, se é que algum dia existiu de fato um desses pequenos milagres que não fosse miragens. Bem, mas oásis possui outra simbologia muito mais bonita e poética quando tiramos a concretude dos elementos água e terra, e jogamos a mesma relação para outro patamar de significado ou possibilidade. Em outras palavras, quando fazemos dele uma metáfora. Um oásis transforma-se em respiro, folga, descanso: uma paz imensa, em meio a tudo que se opõe à ela.

Vivendo a situação que vivemos (no futuro, o ano dessa publicação será mais que suficiente para lembrar do que me refiro), a melhor coisa que pode acontecer na sua vida é encontrar – ou ser encontrado por – um oásis. Pelo menos é a melhor coisa que vem acontecendo com a minha. Uma paz, um bem estar de simplesmente ser, em meio ao caos pandemônico, no qual posso me deleitar algumas vezes por dia e esquecer de tudo, e me deixar viver, no melhor sentir da palavra.

Talvez, se não fosse o tamanho do supracitado caos, o prazer dessa sensação não acompanhasse a mesma magnitude; bem como o silêncio que sucede uma algazarra ensurdecedora, ou até mesmo o lago e sua árvore em meio as areias do deserto. E talvez também, ou melhor, é justamente isso que dá ao oásis seu valor e raridade. Precisamente calculado para acontecer justo agora, paradoxalmente simultâneo a tudo que o rodeia, que é possível sentir-me parte de tão incrível antítese: ser oásis durante tamanha cisão.   

quinta-feira, 24 de março de 2011